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quinta-feira, julho 24, 2003

Vovó "Dinheirinho"

Férias no Rio sempre teve vários sabores e cheiros irresistíveis. E inesquecíveis. Dava até pra sentir o aroma do elevador, se no prédio tivesse elevador de verdade, claro. Se no lugar não tivesse uma caixa preta de madeira corroída de cima a baixo, amarrada em uma cordinha. Nem ligava quando ameaçava cair, porque o cheirinho era capaz de acalmar qualquer claustrofóbico. E eu nem precisava daquela caixa assassina, porque tinha uma escada e pela escada era mais rápido. Quase rolante. E eram só dois andares.

Eu e minha irmã não víamos a hora de chegar na casa da Vovó Sirênia, onde certamente provaríamos o melhor pudim da cidade, a melhor carne assada e tomar aquela bebida borbulhante maravilhosa (permitida apenas na casa da Vovó), a coca-cola! E não bebia de qualquer jeito, não. Era naquele copinho, com coqueiros desenhados. A união perfeita. Coca e coqueiros. Aaaahhhhh...
Mas havia outra coisa. Era dinheiro. A maior nota do momento nos esperava. Logo que entrávamos apartamento adentro, era uma nota, novinha em folha, pra cada uma das netas. Às vezes era um dinheirinho que nem havia sido lançado (assim achávamos). Jurava que Vovó era dona da Casa da Moeda.
Saía mostrando pra todo mundo aquele dinheiro, que não era dinheiro, era um presente. Presente que eu guardava atrás dos meus quadros de bailarinas e a empregada roubava, quando fazia a faxina. Chorava toda vez, porque ninguém acreditava que os sacos cheios de balas não tinham nada a ver com o dinheirinho da Vovó. Juro que nunca gastei um centavo! Eu simplesmente não poderia. Era um presente.

Desculpe, Vovó. Não consegui guardar os presentes, nem os pudins, nem as cocas e as paneladas de carne assada. Também não consegui te guardar, aqui, comigo...

Segunda-feira, Vovó Dinheirinho se foi. E no seu lugar, Deus deixou coisas lindas que empregada nenhuma poderá roubar. Pra sempre ficarão as lembranças, as lágrimas, os cheiros, e os copinhos de coqueiro.

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