Maíra em palavras

Emancipate yourselves from mental slavery

Não era muito tarde. Umas sete da noite mais ou menos, mas a escuridão e a solidão da noite (aqui tem a do dia também) já tomavam conta do lugar. Ouvia-se cães uivando ao longe e, claro, o Rio das Cruzes, que imitava muito bem uma chuva se aproximando. Já havia cochilado um pouco e alimentado Pipo e Kintsi quando resolvi sentar na rede da varanda e encarar o mundo. E foi exatamente essa a sensação. O mundo estava ali e estava na minha frente. “Putaquepariu”! Que vista era aquela? Um céu, minha gente, que me deixou fora do ar por uns quinze segundos. Quando olhei para o lado não encontrei meus cães e, ouvindo uma sucessão de uivos, percebi que haviam se embrenhado pela mata e passaram a responder os outros cães. “Quem está aí?”, diziam. “Somos nós, da cidade”, respondiam. Foi um papo e tanto. Deixei. Após alguns minutos voltaram, felizes da vida, rabos balançando livremente e se posicionaram ao longo da rede, ao meu lado. Comecei a balançar cada vez mais rápido e seus olhinhos não cansaram de me acompanhar. Senti amor. E, como uma coisa puxa a outra, comecei a cantar. Redemption Song, de Bob Marley embalou aquele momento, enquanto a rede me embalava. Éramos somente nós e Bob Marley. Pipo e Kintsi já não me fitavam mais. Seus olhinhos fecharam-se, mesmo com seus corpos eretos, em posição de guarda. Era como se também quisessem apenas ouvir a música, sem distrações. E assim também fiz. Fechei os meus. Sinceramente não sei quanto tempo ficamos ali, mas quando abri os olhos, era uma chuva de verdade que nos recebia. Só fiz chorar.