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quinta-feira, dezembro 04, 2003

Meu "processo"

Há tempos eu tento explicar, quando questionada, o meu processo (se é que eu tenho um) da escrita. Muitos não entendem quando eu digo que não preciso sofrer para escrever sobre sofrimento e, da mesma forma, não preciso amar para escrever o amor. Parece loucura, quando não se leva em consideração o poder das palavras. E é isso o que faço: tento, ao máximo, explorá-las, ao meu favor. E poucos me entendem... Só que eu tenho essa amiga que entende muito bem. Ela, muitas vezes, me chama até de fria, insensível, só porque escrevo sobre coisas que, na maioria das vezes, não tô sentindo. E foi ela, a minha amiga, que hoje me mostrou exatamente aquilo que, acho eu, define o meu "processo". E foi Fernando Pessoa, que, usufruindo do poder das palavras, escreveu o que, confesso, gostaria de ter escrito:

Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo o que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!


Bravo! É isto, gente!
Brigada, Carla!

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