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segunda-feira, dezembro 01, 2003

100% Amor

Será que uma mulher é capaz de amar um homem por inteiro? Fazer do todo, objeto do seu amor? Pois eu digo que amo dessa forma, completa e intensamente. Amo todas as partes do meu amor, porque seria muito fácil amar só um único pedaço ou dois, que seja. Seria muito fácil amar só os olhos, principalmente se os olhos são assim, como os seus, pequenos e apertadinhos. Seria muito fácil amar só a sua pele lisa e morena e cheirosa e seus cabelos negros, organizadamente despenteados. Muito fácil! Fácil amar a sua voz rouca e firme ao pé do meu ouvido. Digo que seria fácil amar suas mãos, nem tão grandes, nem pequenas, que quando me seguram, alcançam até a alma. Bem fácil seria amar a tua boca. Ah, a boca... O que direi da tua boca? Apenas que não me canso em calar-lhe. Absurdamente fácil amar tua nuca, ainda mais quando, saciada, desço até as costas e lá repouso. É assim que se ama de verdade. Só sei amar se for assim, de verdade. E eu sei, porque amo tudo, o suvaco fedido, as espinhas e também teu bafo, muitas vezes, insuportável. Amo o teu ronco ensurdecedor e broxante, seu pé, desalinhado e todo estranho. Calos gritantes, argh!

Amo até as tuas unhas mal cortadas, que deixam marcas doídas na minha pele. Amo o teu espirro estrondoso e totalmente fora de hora, tua mania irritante de repetir as minhas últimas palavras, sua risada aguda e, sinceramente, sem graça, seu cotovelo ressecado, que, se não fosse pelo braço que amo, arrancava fora. Amo, sem pestanejar, as tuas pernas finas, magras demais. Sua tosse forçada, que me enche o saco. Já não suporto suas constantes crises de amnésia, quando pergunto onde esteve e, quer saber, eu já estou cheia, cansada. E mais: pegue as suas coisas e suma da minha vida!

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